Anapolino morre um dia antes de cirurgia que aguardava há 17 dias

Ao Portal 6, família alegou que a demora excessiva de hospital público de Anápolis foi determinante para a tragédia

Thiago Alonso Thiago Alonso -
Alair Monteiro de Castro tinha 59 anos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Revolta. Este é o sentimento que fica para a família de Alair Monteiro de Castro, de 59 anos, falecido no último dia 09 de setembro, enquanto aguardava uma cirurgia no Hospital Municipal Alfredo Abrahão (HMAA), em Anápolis.

O homem havia sofrido um acidente no dia 23 de agosto, após tentar remover um prego de uma parede, o que ocasionou uma queda que esmagou um importante osso do ombro.

Ao Portal 6, uma familiar da vítima contou que, ainda no mesmo dia, ele foi levado para a unidade médica, onde afirmaram que ele precisaria fazer uma operação complexa para resolver o caso, uma vez que seria necessária até mesmo uma prótese.

Contudo, o que parecia um diagnóstico rápido logo se transformou em um pesadelo, repleto de sofrimento para o homem.

“Ele caiu na sexta-feira [23], mas só apareceu um médico para examinar ele na segunda-feira [26] de manhã”, contou a parente, que preferiu não se identificar.

Fachada do Hospital Alfredo Abrahão, em Anápolis (Foto: Reprodução/Prefeitura de Anápolis)

Assim se seguiram os dias. Segundo a família, Alair só recebia atendimento quando solicitado ao hospital. Caso contrário, nada era feito.

“Ele tinha problema no coração, tinha até uma válvula, mas nem isso eles checaram. Não era qualquer remédio que podia tomar, e logo de cara deram um tramadol. Acho que foi aí que a situação começou a piorar”, relembrou, indignada.

Sem resposta

Os dias se passaram e a cirurgia, que deveria ser realizada com urgência, nem mesmo havia sido planejada.

Ao questionar a direção do HMAA, a familiar recebeu a notícia de que, de fato, a operação iria demorar um pouco devido à complexidade do caso.

“Me falaram que o hospital não tinha os equipamentos para a cirurgia, que iam precisar de prótese, por isso estava demorando, estavam esperando que os produtos chegassem lá”, contou.

Com o atraso, a família tentou transferir Alair para o Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (HUGOL), em Goiânia, mas entraves na regulação impediram o processo.

“Estava com 15 dias que ele estava internado, aí me ligaram da regulação de Goiânia tentando transferir ele para o HUGOL, mas não conseguiram porque afirmaram que o hospital [Alfredo Abrahão] não retornou o pedido”, afirmou.

Alívio tardio

Já no dia seguinte a essa ligação, a parente recebeu mais uma notícia, dessa vez, de alívio: a cirurgia estava marcada para a segunda-feira, dia 09 de setembro, após 18 dias de internação.

Mas, infelizmente, já era tarde. Alair morreu no domingo (08), um dia antes da tão esperada operação que salvaria a vida dele.

À reportagem, outra familiar do homem, que trabalha na área da saúde, contou que, por ser um paciente cardíaco, o comerciante não deveria ter ficado tanto tempo em repouso aguardando pelo procedimento.

“Essas questões que estou dizendo, não são achismos. Foi comprovado pela autópsia que foram esses os motivos. O repouso prolongado em um paciente cardíaco eleva muito o risco de tromboembolismo, e foram 17 dias aguardando uma cirurgia”, explicou a profissional.

Alair Monteiro de Castro faleceu em decorrência de uma embolia pulmonar, que, por sua vez, levou à parada cardíaca.

A unidade de saúde chegou tentar reverter a parada cardíaca, mas nada mais podia ser feito. O óbito foi confirmado ainda no mesmo dia.

Resposta

O Portal 6 entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) de Anápolis, que respondeu que o paciente estava inserido na regulação em busca de uma nova unidade para realização da cirurgia, dado a complexidade do caso.

Ainda reiteiraram que a transferência não ocorreu pois depende da liberação de vagas no sistema, para assim, realizar a transferência.

A Funev, responsável pela gerência do Hospital, preliminarmente, destaca que a unidade passou por transição de gestão em 06/09/2024, e que foi verificado na data, que o paciente estava inserido na regulação em busca de vaga em unidade referência, devido a necessidade de realização de procedimento cirúrgico com utilização de OPME, e complexidade da cirurgia. Cumpre ressaltar, que a instituição insere a solicitação de vaga para o complexo regulador, que é o órgão responsável pela busca vagas em unidades referência para cada caso, e que também depende da disponibilidade de vagas no sistema, para liberação, com posterior encaminhamento do paciente.
O paciente seguiu assistido conforme nível e complexidade da unidade, e na data de 08/09/2024, sofreu mal súbito, constatado parada cardiorespiratória, sendo encaminhado para sala vermelha com realização de todos os procedimentos de reanimação, infelizmente, sem sucesso. Considerando o histórico de problemas de saúde relatados pela família, e considerando outros relatos de sintomas apresentados não associados à necessidade cirúrgica, houve encaminhamento ao SVO para verificação do óbito.

*Atualizado na quarta-feira (18) às 08h31

 

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