Mães que perderam filhos em Anápolis rebatem Demóstenes sobre homicídio doloso servir para “gerar comoção”
Todas elas sentem na pele a dor provocada por crimes de trânsito e resolveram se pronunciar contra a fala do advogado de Sérgio de Moraes
Nos últimos dias, o crime de trânsito que resultou na morte do entregador de aplicativo Wilkinson Leles do Nascimento, de 38 anos, tem causado muita comoção e revolta nas redes sociais.
O responsável por provocar a colisão frontal, o advogado Sérgio de Moraes, casado com a ex-deputada e conselheira do Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE), Carla Santillo, estaria bêbado quando tudo aconteceu e segue foragido.
Ao todo, o condutor do veículo possui um time de 10 advogados para defendê-lo, sendo que a fala do principal deles, o ex-senador Demóstenes Torres, fez com que várias mães, que perderam os filhos também, ficassem transtornadas.
Ao Portal 6, cinco delas comentaram sobre o ex-político e atual defensor de Sérgio de Moraes ter dito, em provocação ao delegado de trânsito Manoel Vanderic, que a tentativa de enquadrar crimes como esses em homicídio doloso (quando se assume o risco de matar) seria apenas para “gerar comoção”.
Confira o que cada uma delas disse
Silvia Martins, mãe da Taís Martins Miller, que morreu no dia 30 de outubro de 2020, aos 24 anos. A jovem pilotava uma motocicleta, na BR-060, quando um motorista bêbado, na contramão, bateu de frente com ela
“Eu não tenho interesse nenhum de comover ninguém. A única coisa que eu quero, que eu desejo, é que a justiça seja feita e que essas pessoas que dirigem embriagadas e tiram vidas, que elas paguem, sim, pelo homicídio doloso, porque elas sabem muito bem o que estão fazendo quando tomam a direção de um veículo. Elas sabem muito bem o que podem causar na vida de outras pessoas ou até na dela mesma. Então, independente de quem acha que seja para comover ou não, não me interessa. Eu sei a dor que eu sinto todos os dias. Eu sei a dor que eu sinto e eu vou fazer o que eu puder para que todos que cometem esse crime paguem, sim, pelo homicídio doloso.
Gisele Morais, perdeu a filha Thalyta Santos, aos 20 anos, em 15 de abril de 2019. A jovem estava à caminho do trabalho quando caiu em um buraco e foi atropelada
“Não é comoção, é o mínimo aceitável, pois os culpados não podem voltar às suas “vidas normalmente” tendo arrancado de nós a nossa normalidade. Como pode ser comoção nossos filhos saírem de casa saudáveis, cheios de vida, e voltarem para nós dentro de um caixão? Isso é comoção ? Como dizer isso para uma família inteira que foi sepultada junto?”
Michelle Pires, mãe do Emanuel Pires, morto no dia 03 de outubro de 2020, aos 15 anos. O adolescente faleceu depois que um empresário bêbado furou um sinal vermelho e colidiu com a caminhonete em que ele estava
“A comoção está relacionada com o evento morte e não com o crime. O crime deve ser qualificado doloso porque é assim que a Lei trata assassinatos. Não deve existir margens para argumentos!”
Glaucia Gomes, mãe do Matheus Machado, de 19 anos, que perdeu a vida no dia 11 de setembro de 2020. O rapaz colidiu contra um poste, depois que um idoso o fechou em um retorno e fugiu
“Enquanto esses indivíduos estiverem cometendo esses crimes de trânsito e ficarem sem punição, infelizmente nunca vão parar de matar. Comoção é simplesmente a perda que já tivemos de nossos filhos. Esses não têm volta.”
Eliana de Oliveira, mãe do Itamar Júnior, que teve a morte registrada em 16 de maio de 2018, aos 17 anos. Foi atropelado enquanto voltava do trabalho por um carro em alta velocidade, com três ocupantes, que fugiram
“Quer dizer que tirar a vida do meu filho por consequência de dirigir embriagado é desculpa? É uma falta de respeito com nós pais, que perderam nossos filhos. Não estamos aqui para comover ninguém, e nem em busca de troféus. Queremos apenas que a justiça seja feita por ter tirado a liberdade e os sonhos de nossos filhos.”