Moradores de bairros em Goiânia relatam incômodo com falta de privacidade: “observados o tempo inteiro”
Situação não se limita a poucos relatos, mas tem chegado até mesmo às construtoras


Nos últimos anos, Goiânia tem se tornado um dos maiores mercados imobiliários do país, com novos edifícios sendo lançados todos os meses. No entanto, junto a isso, um outro problema surge: os grandes adensamentos e a falta de privacidade.
Setores como Marista, Bueno e Oeste estão entre os mais procurados da capital, sendo estes os principais alvos das construtoras, o que acaba ocasionando um grande número de ‘vizinhos’, mesmo que isso não esteja no planejamento.
Segundo dados do Anuário Data Zap 2025, feito pelo Grupo OLX, um dos principais fatores na hora da escolha de um imóvel é à vista que o mesmo proporciona, situação que tem sido quase uma disputa em Goiânia.
Este desejo de ter uma vista livre pode ser motivo de insatisfação para muitos, uma vez que o entorno de um apartamento pode mudar ao longo do tempo, principalmente em regiões onde estão sendo construídos outros empreendimentos.
Uma das ‘vítimas’ do adensamento das regiões foi o empresário Oceanos Gonçalves Martins, que sofreu um baque após comprar um imóvel no Setor Marista.
À época, ele havia escolhido o bairro por ser um dos mais bem localizados da capital, além de também considerar a escolha do vigésimo andar como certeira, pois teria uma fachada toda em vidro, com vista livre e a presença do sol nascente.
Contudo, a paisagem da cidade logo se perdeu. O apartamento rodeado de janelas de vidro deu lugar as cortinas – após a construção de um novo empreendimento bem à frente, o que acabou com a privacidade.
Por conta disso, Oceanos já colocou o imóvel à venda e está em busca de uma nova moradia, onde possa ter os mesmos benefícios da localidade, mas sem perder a tão sonhada vista.
“Além de não ter a iluminação natural que desejávamos, não temos ventilação, pois precisamos manter as cortinas fechadas. Parece que estamos sendo observados o tempo inteiro em nossa própria casa”, desabafa.
Dentre as opções consideradas pelo empresário são as várias unidades que estão em construção próximo à parques, o que resultaria em vistas definitivas.
O relato pessoal não é um desejo exclusivo da família de Oceanos, mas tem se estendido por clientes de toda capital, conforme apontou o gerente comercial da Euro Incorporações, Henrique Campelo.
“Esse é um ponto que tem chegado a nós com certa frequência, percebemos pessoas insatisfeitas com a falta de privacidade e outras questões típicas de regiões muito adensadas como congestionamentos no trânsito”, pontuou.
Ele explica que a incorporadora tem sido bastante procurada, principalmente pelo fator de que o entorno dos prédios construídos por eles, é formado por extensa área de preservação permanente, como o Parque do Cerrado, e por condomínios horizontais.
Especialista explica
Para o historiador e doutor em planejamento urbano, Fred Le Blue Assis, os adensamentos nestas regiões criaram problemas que vão muito além da privacidade e da visão do horizonte.
“O adensamento intenso também pode causar perda da qualidade do ar, com impactos no microclima da região, causados pela interrupção no fluxo do ar entre as edificações altas, principalmente quando a edificação não está próximo a áreas verdes; problemas de drenagem urbana com enchentes e alagamentos; possíveis problemas de escassez hídrica e elétrica pelo hiperconsumo da região, problemas de mobilidade e trânsito, aumento da poluição atmosférica, com o excesso de obras na região; além da perda da privacidade habitacional e da vista da cidade”, observa.
Segundo ele, uma forma ideal de não interromper este ‘avanço’ do mercado imobiliário, é realizar a verticalização de forma respeitosa com o meio urbano, promovendo limites de distanciamento e intimidade do usuário.
“É preciso encontrar um mínimo divisor comum para que as edificações nas cidades possam atender as demandas da população e os interesses comuns, aliando a verticalização ao adensamento mais planejado e menos intenso”, avaliou o doutor em planejamento urbano.
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